o falso-poeta (I)

adel barros
impublicável.

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tudo começa por uma prerrogativa básica — ele não é poeta. talvez até consiga ser, se for considerar o que dizem as pessoas sobre alguém que sabe colocar em versos suas prosas de sentimentalismos e devaneios cotidianos, em poucas palavras, por vezes, consideradas sábias.

ainda assim, ele não é um poeta. até porque, o poeta é alguém que se auto intitula a si mesmo um nome que orienta uma atividade específica — alguém que escreve poesia.

esse de quem falo, não escreve sempre, escreve quando dá, quando quer, quando sente que é a hora. não é essencialmente tão sábio quanto queria, nem tão tolo quanto pensa que é. eu o conheço bem, e até tenho pena dele.

ele não é poeta e nem se importa em não sê-lo. por escrever quando quer, ele só escreve e nisso finda a atividade motora, comportamental, sentimental e mental, ou qualquer lá que seja esse tipo de atividade definida por ciência qualquer.

falso por parecer ser, e não verdadeiramente sê-lo. ele não o é por medo. ele tem medo de se entregar à poesia dela tirar seu sustento que o neoliberalismo pressupõe. ele prefere viver com ela, ao lado dela, dentro dela, sob ela e talvez, sobre ela. ele tem medo de comprometer-se com a escrita livre de regras e babaquices de escritor. ele não quer ser escritor, poeta, artista. ele foge disso, e eu nem julgo o medo da arte. ou ao menos de viver dela ou por ela.

o falso poeta vivencia sua falsidade com bastante frustração entre o ser ou não ser, aquele questionamento entediante da clássica tragédia de Hamlet — com outro pano de fundo, bem específico, bem original. a frustração é complexa, a dele não é diferente disso.

ele proseia xícaras de café e poeira de canto de porta fechada, e até mesmo no sono REM, ou quando acorda no breu. ele tem versos com ele e a prosa também. acho que ele dorme com a prosa por perto, não sei… da relação entre eles eu não sei, e sinceramente, não quero saber. é paranormal.

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